quinta-feira, outubro 23, 2008

Os contadores de histórias

O fracasso na tentativa de resgate das reféns do seqüestro, e que acabou vitimando a menina Eloá em Santo André/SP, foi justificado pela necessidade de uma ação rápida e inoportuna. Dela surgiu "a tal história do tiro prévio", história montada para proteger a equipe dos policiais militares.

O próprio comandante da equipe da polícia militar no local afirmou, momentos após o trágico desfecho, que "se tudo tivesse ocorrido bem, agora a imprensa estaria elogiando a ação da polícia militar". Uma atitude de defesa preventiva de quem sente que as coisas não ocorreram como deveriam e sente que em parte é responsável pelo ocorrido.

O desfecho trágico do seqüestro revela uma outra tragédia: a total falta de profissionalismo e a desorganização do aparato encarregado pela segurança pública no Brasil. Nesse setor nós remamos na contra-mão da história em tudo o que é considerado moderno e eficiente no setor em todo o mundo.

Está mais do que provado que a idéia de "militarizar" o policiamento preventivo no Brasil - um dos frutos da ditadura militar de 64 - resultou num grande fracasso. Mais do que militarizar a polícia, a idéia provocou uma divisão no setor da segurança pública, e as duas entidades - polícias civis e militares - nunca trabalharam em harmonia.

Seqüestro é uma ocorrência tipica que exige uma equipe treinada para lidar com a situação. Não se tem uma só equipe especializada e treinada para isso porque não há acordo entre as polícias, a coisa não é resolvida com a lógica de entregar a situação para quem está mais habilitado, mas de "quem chegou primeiro".

Corporativismo puro e que penaliza a população. Agora mesmo nesse caso do seqüestro de Santo André/SP, todos se movem no sentido de "manter a história oficial do tiro prévio". Nesse sentido foi interessante ouvir o Coronel designado para investigar a atuação da equipe da PM setenciar "eles agiram corretamente", isso mesmo antes de iniciar os trabalhos.

É claro que todos estavam lá com a melhor das intenções e com o intento de solucionar positivamente o seqüestro. Não houve dolo, mas faltou profissionalismo, competência, e faltou humildade para colocar a vida das reféns acima desse jogo de belezas que afeta a segurança pública no Brasil. Pior! Infelizmente isso não serve de consolo para os familiares e amigos da jovem vitimada na ocasião.

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