quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Chegando lá

Moro em Porto Alegre, denominada "cidade sorriso". Confesso que nunca vi na cidade esse sorriso que justificaria o epíteto. Dirão que se justifica, pois o sorriso estaria estampado no rosto dos seus habitantes. Pode ser, é verdade, as pessoas sorriem por aqui. Mesmo assim essa dita hilaridade citadina não me convence e, como em qualquer lugar, também há muito choro nestas plagas.

Formamos uma dupla estranha: a cidade sorriso e o ser carrancudo. Comparação infeliz. Nossa relação é do conteúdo e do contido, embora alguns admitam que se possa amar uma cidade. Uma cidade não sente, ela espelha os sentires dos seus habitantes. Sendo assim, a cidade sorriso está menos sorriso hoje, deve estar absorvendo um pouco dessa minha carranca.

Ninguém quer definir-se como um ranheta, qualidade que muitos tem e poucos assumem. Não vejo grande vantagem nessa minha franqueza, melhor vender uma imagem positiva num mundo que vive menos de conteúdos e mais de imagens, de invólucros, de embalagens, de rótulos. Está bem: eu sou o rei da simpatia, o cara alegre e sempre feliz!

Todo bebe chora de fome, de sede, por que está sujo, porque está com sono, porque está com frio, chora por causas fisícas. E sorri sem ter motivos, por puro instinto. A gente cresce e passa a só sorrir com motivo, e precisa cada vez mais de um grande, ou de muitos motivos para sorrir.

Deve ser por isso que quanto mais velhos, mais carrancudos nós somos, até o limite da senilidade, quando então voltamos a ser crianças e a rir por qualquer coisa. Hehehehe...

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