terça-feira, janeiro 10, 2006

Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido.

Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido. Eu estava lendo algo sobre o show dos Rolling Stones que se realizará próximamente no Rio de Janeiro. Fala-se na expectativa do comparecimento de mais de um milhão de expectadores, isso é muito povo, realmente muito povo. Fala-se, ainda, dos preparativos para o mega-evento, muita coisa a ser construída, palco, camarotes...

Ah! Aí está! E como não haveria de estar? Essa presença obrigatória em todos os grandes eventos. O palco? Não, os camarotes. Aquilo que separa os nobres dos vis mortais, as "gentes" das gentinhas, "os manda quem pode" dos "que obedece quem precisa ou tem juizo", a elite da patuléia. Ninguém mais repara nisso, como se fosse uma escravatura consentida, todos acham belo e honroso a separação, homenagear a nobreza, beijar-lhes os pés, servidão consentida, pequenez admitida, diferença acatada, senhorio reconhecido.

A grande senzala aplaude, ovaciona, a patuléia delira como a presença dos poderosos e famosos. Uns explicam e justificam a presença dos outros. Camarotes servidos por gentis servos e servas, canapés, bons bebes, vinhos de safras nobres, uísques de velhas safras, tornam estes ambientes imperiais dignos, separando-os da ganga impura, da pobre areia, dos pobres "lá embaixo na areia", acostumados às festas poucas. Lá embaixo, na baixaria, no nível das subgentes, rola o suor e a cerveja, regado por algum pastel e farofa.

A descrição lembra o tempo dos césares que, em realidade não mudou muito, mudou o show perpetrado na arena; os nobres de agora são bem melhores! São nobres bonzinhos e civilizados, nem se comparam com os nobres daqueles tempos! Os de hoje - vejam a nossa sorte! - abdicaram das cenas violentas, livraram a patuléia de serem devoradas por leões. Atualmente eles se contentam com shows de rock, que não tem aquele monte de sangue e são muito mais divertidos.

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