segunda-feira, novembro 14, 2005
Questão de Educação
Moro em Porto Alegre num bairro afastado do centro da cidade onde, depois de quase vinte anos, a inevitável especulação imobiliária acabou atingindo a área há um par de anos. Coisas do êxodo rural e do conseqüente aumento exagerado das cidades, para abrigar uma população crescente, não há maneiras de evitar esse enraizamento em direção às periferias, mesmo as mais distantes.
Porto Alegre já cresceu demais, pelos meus critérios ela já passou do "ponto" que considero ideal há muito tempo. Eu sempre digo que qualquer cidade mantém a sua humanidade intacta até os cinquenta mil habitantes; ainda é administrável e controlável até os duzentos mil e, depois disso, vira um pandêmonio, um salve-se quem puder. Já entramos no estado pandêmonico há muito tempo.
Como nada nesta vida tem só um lado, sempre há que considerar um outro aspecto da questão, o positivo desse desenvolvimento habitacional ocorrido no meu bairro foi a construção de uma série de praças. Acreditem ou não, agora, numa distância não superior a dez quadras de onde moro, existem cinco novas praças.
Costumo fazer minhas caminhadas matinais seguindo um roteiro que passa pelas praças; a motivação é óbvia: sempre é mais agradável caminhar ladeado pelo verde, é bom demais! Nessas minhas caminhadas é que posso constatar o quanto ainda estamos longe do primeiro mundo. A quantidade de sujeira, de lixo, de entulho, que encontro nas praças e terrenos baldios é impressionante.
Aqui em Porto Alegre convivemos com um personagem do passado para muitas cidades do Brasil: os carroceiros. A existência deles aqui em uma grande quantidade talvez se deva as raízes rurais do estado, não sei ao certo. O certo é que a permanência da atividade está ligada a causas eminentemente sociais, já que é uma atividade praticamente restrita a camada mais pobre da população.
Esses carroceiros se especializaram na prestação de dois tipos de tarefas: pequenos serviços de fretes e no serviço de reciclagem do lixo. Muitos ainda se utilizam dos serviços dos carroceiros para a remoção de entulhos, caliças, os restos de obras; o problema nesse caso é o destino da carga: 100% delas vão parar em algum terreno baldio das redondezas.
Quando se trata da reciclagem do lixo, o interesse maior reside nas garrafas de refrigerante tipo pet, no papel e papelão, latas de alumínio, etc. Não é raro encontrar carroceiros em praças e terrenos baldios fazendo uma "seleção": separam dos sacos de lixo que recolheram previamente o que lhes interessa e jogam no chão de qualquer jeito o restante do lixo.
Qualquer um sabe que essa é uma atividade de quem já está na "ponta da cadeia" - para não dizer que já está fora dela. Sobreviver com o lixo, com o que resta dos outros não é atividade dignificante nem profissão elegida por ninguém. Ainda assim cabe uma atenção das autoridades, uma atividade educativa junta às cooperativas de reciclagem onde estão concentrados os trabalhadores desse área.
Cabe, principalmente, cobrar uma atitude positiva de quem se diz educado, de quem produz e acondiciona o lixo. Se os moradores fizerem uma seleção prévia, separando os materiais recicláveis, será evitada essa separação grosseira posterior pelos catadores. Quanto aos entulhos, não contrate um carroceiro, contrate um serviço especializado na remoção desse tipo de lixo. Dois benefícios: a cidade ficará mais limpa e os cavalos serão menos maltratados.
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