quinta-feira, novembro 17, 2005

Homem-de-borboleta-na-cabeça

Ele tinha uma borboleta na cabeça. Era o bicho, não o jogo, onde borboleta é 13, o número do azarado. Também não era bicho, que borboleta é inseto, alado, estava lá, na cabeça pousado, "acranisado". Formavam, assim, uma dupla bem estranha, ou uma unidade mais ainda: homem-de-borboleta-na-cabeça, nova espécie da classe homo-lepidóptera.

Era uma borboleta bonita, multicolorida, embora nas asas predominasse os tons de azul. O homem, que era quase monocromático, não era lá essas coisas, um desses homídeos comuns. A julgar pelo tamanho, e mal comparando-se os dois, poder-se-ia dizer que era o homem quem portava a borboleta; era ele quem tinha uma borboleta na cabeça.
A convivência era boa, aparentemente pacífica, com uma espécie de tolerância mútua que agora os unia. União temporária, não parecia haver qualquer espécie de simbiose entre os dois. Um mero consortismo, ele beneficiário de uma nova estética, do adorno que o inseto acrescentava a sua cabeça comum; e, para ela, ele era uma cabeça, não no sentido pensante do termo, mas um planalto, um campo de pouso, um mirante, local de repouso, e só.

Apesar da beleza do quadro, eles permaneciam calados, não havia diálogo. Talvez um problema de falta de uma linguagem comum; não seria ela uma borboleta japonesa?

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